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terça-feira, 1 de junho de 2021

OLGA BENÁRIO, UMA VIDA MARCADA PELA LUTA

 


Falar sobre Olga é voltar a minhas aulas e livros na escola, à sessão de cinema, antes de tudo é lembrar de uma pessoa tão marcante por seus olhos azuis e uma história de luta que não dá para esquecer. Hoje vamos falar de uma mulher que dedicou sua vida por uma causa...


Olga Gutmann Benário nasceu em Munique na Alemanha, em 12 de fevereiro de 1908. Filha do advogado Leo Benário e de Eugénie Gutmann Benário, a família era de origem judia alemã, possuía um edifício de apartamentos no bairro boêmio de Schwabing. Olga estudou no colégio Luisengymnasium e desde bem jovem participava de um grupo Schwabing, que se reunia uma vez por semana numa velha serraria no subúrbio. Com 16 anos, decidiu sair de casa e seguir o professor Otto Braun, seu namorado, e dirigente do Partido Comunista da Alemanha (KPD), que sob a influência do ambiente revolucionário no país, participava das lutas da juventude trabalhadora no distrito "vermelho" de Neukölln, em Berlim.

Olga (última fileira) com a Liga Juvenil, minutos antes de invadir a prisão de Moabit.

Após a queda da monarquia, instaurou-se um regime republicano na Alemanha, a República de Weimar. O regime nunca foi aceito pela direita, que o considerava uma traição ao Tratado de Versalhes, nem pela extrema-esquerda comunista, que, esmagada politicamente na repressão ao Levante Espartaquista de 1919, quando foi assassinada Rosa Luxemburgo, desejava instaurar o comunismo na Alemanha e formar uma aliança política com a União Soviética. O conflito entre a direita e esquerda marcou esse período turbulento da história da Alemanha, com lutas armadas entre as milícias paramilitares e diversos homicídios políticos.

Olga ascendeu rapidamente dentro do movimento comunista depois dos conflitos de rua contra milícias de direita no bairro de Kreuzberg, próximo a Neukölln. Ela foi presa no mesmo dia que Braun, sendo ambos acusados de alta traição à pátria. Ficou presa entre Outubro a Dezembro de 1926 e depois foi solta, mas Braun, não. Junto com seus colegas de militância, planejou então a invasão à prisão de Moabit que libertaria Braun em Abril de 1928, tornando Olga procurada pela policia. Logo depois, ambos fugiram para a União Soviética. 

Em Moscou, Olga aperfeiçoou seus conhecimentos sobre o marxismo e recebeu treinamento militar na Escola Lenin, trabalhando também como instrutora da Seção Juvenil da Internacional Comunista. Durante sua estada na União Soviética, adotou o codinome "Olga Sinek". Separou-se de Braun em 1931. Em 1934, ela recebeu da Internacional Comunista a missão de ser responsável pela segurança de Luís Carlos Prestes no retorno ao Brasil. A Internacional Comunista era uma seção do Partido que determinava as bases de difusão do comunismo internacionalmente.



PRESTES E A INTENTONA COMUNISTA

Luís Carlos Prestes nasceu em 3 de janeiro de 1898, em Porto em Alegre, no Brasil. Ficou conhecido por causa da sua luta armada contra as tropas do governo de Artur Bernardes na famosa Coluna Prestes da década de 1920. Filho de Antonio Pereira Prestes e Maria Leocádia Felizardo Prestes, formou-se no secundário no Colégio Militar e em Engenharia Militar pela Escola Militar do Realengo no Rio de Janeiro, em dezembro de 1919. Foi engenheiro ferroviário na Companhia Ferroviária de Deodoro, como tenente, e durante o ano de 1921 foi instrutor na Escola Militar até o final desse ano, quando voltou a Companhia Ferroviária.

Prestes participou do levante de 1922 no Rio de Janeiro, conhecido como a revolta dos 18 do Forte de Copacabana, com o objetivo de derrubar Epitácio Pessoa, então presidente, e impedir a posse de Artur Bernardes, devido a cartas, supostamente suas, que foram publicadas em jornais, nas quais atacava o exército e o Marechal Hermes da Fonseca. O movimento acabou em fracasso. Como punição a essa participação naquele movimento tenentista, foi mandado para a cidade de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, onde foi engenheiro militar durante dois anos. Abandonou o exército em 1924 e foi trabalhar em uma empresa de engenharia civil, implantando a rede de iluminação elétrica da cidade e também construindo uma ponte ferroviária na região. Um mês depois, começaria a organizar o movimento político-militar que ficaria conhecido como Coluna Prestes.

Em outubro de 1924, já capitão, Luís Carlos Prestes liderou um grupo de rebeldes na região missioneira do Rio Grande do Sul. Saiu de Santo Ângelo e se dirigiu para São Luís Gonzaga, onde permaneceu por dois meses aguardando munições do Paraná, que não vieram. Aos poucos, foi formando o seu grupo de comandados que vieram de várias partes da região. Rompendo o famoso "Anel de ferro" propagado pelos governistas, rumou com sua recém-formada coluna para o norte até Foz do Iguaçu. Na região sudoeste do estado do Paraná, o grupo se encontrou e juntou-se aos paulistas, formando o contingente rebelde chamado de Coluna Miguel Costa-Prestes. Prestes liderou um grupo de cerca de 1.500 homens, que marchou 25 mil quilômetros pelo Brasil ajudando os pobres e denunciando o governo de Bernardes, conhecido pelo autoritarismo. Em 1927, quando o grupo de Prestes desarmou-se na Bolívia, não havia sofrido uma derrota sequer.

A historiadora Anita Leocádia Prestes (filha de Olga e Prestes) afirma que Olga já havia escutado histórias em Moscou acerca dos feitos de Prestes. Na missão recebida, Olga e Prestes deveriam passar-se por casados e viriam clandestinamente ao Brasil. Isso porque ele era procurado por ter desertado do exército durante a Coluna Prestes. Na viagem, Olga e Prestes apaixonaram-se e assumiram compromisso. 

Prestes e Olga foram apresentados às vésperas da viagem, por Manuilskki, dirigente da IC (Internacional Comunista). Eles embarcaram clandestinamente de Moscou no dia 29 de dezembro de 1934, como Pedro Fernandez, um espanhol, e Olga Sinek, estudante russa, disfarçados de de casal endinheirado em lua de mel. Após uma viagem de mais de três meses por diversas localidades, chegaram ao Rio de Janeiro em abril de 1935, onde fixaram residência. Durante o percurso, houve uma aproximação e a relação tornou-se de verdade. A convivência durou um pouco mais de um ano.

Atribui-se a Luís Carlos Prestes e sua vinda ao Brasil a missão de organizar um movimento revolucionário. No país, ele foi considerado presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Esse grupo político pregava a luta contra o fascismo e a tomada do poder no Brasil por um movimento revolucionário. Prestes também fazia parte dos quadros do Partido Comunista do Brasil (PCB). A vinda dele ao país levou a uma tentativa de golpe militar à esquerda contra Vargas. A Intentona Comunista aconteceu em novembro de 1935 com levantes militares em três cidades brasileiras (Natal, Recife e Rio de Janeiro). O movimento, no entanto, fracassou, e Prestes passou a ser perseguido pela polícia.



PRISÃO

Durante alguns meses, Prestes e Olga conseguiram ainda viver na clandestinidade. Em março de 1936, Olga e Prestes foram capturados pela polícia. Ela se colocou na frente de Prestes no momento da prisão para salvar sua vida. Olga foi levada para a Casa de Detenção, posta numa cela junto com mais de dez mulheres, muitas delas conhecidas suas. Neste momento, descobriu estar esperando uma filha de Prestes. Logo veio a ameaça de deportação para a Alemanha, sob o governo de Hitler, o que consistia em sérios riscos para ela, pelo fato de ser judia e comunista. Começou na Europa um grande movimento pela libertação de Olga e Prestes, encabeçado por D. Leocádia e Lígia Prestes, respectivamente a mãe e a irmã de Luís Carlos Prestes.

O julgamento de Olga foi feito segundo os termos formais da ordem constitucional definida pela constituição federal, atendendo a um pedido de extradição do governo nazista. Nos termos da constituição em vigor, o julgamento era legal. O advogado de defesa de Olga pediu um indulto (habeas corpus), argumentando que a extradição era ilegal, pois Olga estava grávida e sua extradição significaria colocar o filho de um brasileiro sob o poder de um governo estrangeiro. Havia também o aspecto humanitário da permanência dela no país já que os campos de concentração nazistas, à época, não funcionarem como local de extermínio, era de conhecimento público que eram centros de detenção extrajudicial onde os internos eram tratados com intensa crueldade.

O Supremo Tribunal Federal aprovou o pedido de extradição. O ministro da Justiça, Vicente Rao, assinou com Getúlio o ato de expulsão. Olga foi deportada para a Alemanha, juntamente com a amiga Sabo. Getúlio Vargas decretou o estado de sítio após a Intentona como resposta à radicalização político-ideológica no Brasil tanto da direita quanto da esquerda, polarização que estava acontecendo também fora do país. Apesar de o contexto em parte justificar a decisão, em 1998 o então presidente do Supremo, Celso de Mello, declarou que a extradição fora um erro: "O STF cometeu erros, este foi um deles, porque permitiu a entrega de uma pessoa a um regime totalitário como o nazista, uma mulher que estava grávida."

Após a decisão, Olga foi transportada para a Alemanha de navio (o cargueiro alemão La Coruña), apesar dos protestos do próprio capitão pela violação do Direito Marítimo internacional - afinal, Olga já estava grávida de sete meses. No porto de Southampton, os serviços de informação ingleses evitaram que comunistas fizessem o resgate de Olga. Quando o navio aportou em 18 de outubro de 1936 na Alemanha, oficiais da Gestapo já esperavam por ela, para levá-la presa. Não havia nenhuma acusação contra ela, pois o caso do assalto à prisão de Moabit já prescrevera. No entanto, a legislação nazista autorizava a detenção extrajudicial por tempo indefinido ("custódia protetora") e Olga foi levada para Barnimstrasse, prisão de mulheres da Gestapo, onde teve a filha, que denominou de Anita Leocádia, futura historiadora, professora-adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Anita ficou em poder da mãe até ao fim do período de amamentação de 14 meses e, depois, foi entregue à avó, D. Leocádia, em consequência das pressões da campanha internacional dirigida por Lígia Prestes e pela própria D. Leocádia, que morreria no exílio no México.

Campo de concentração de Bernburg

CAMPO DE CONCENTRAÇÃO E MORTE

Olga foi transferida para o campo de concentração de Lichtenburg nos primeiros dias de março de 1938, e em 1939 seria transferida para o campo de concentração feminino de Ravensbrück. Aqui, as prisioneiras viviam sob escravidão e eram sujeitas a experiências pelo médico Karl Gebhardt. Relatos de sobreviventes contam que, durante o seu tempo em Ravensbrück, Olga organizou atividades de solidariedade e resistência, com aulas de ginástica e história. Sua resistência na prisão e nos campos de concentração chegou a ser assunto de documentação interna da Gestapo, que assinalava sua falta de colaboração em interrogatórios, que lhe valeram castigos físicos, confinamento em solitária ou privação de comida, além da restrição na comunicação com parentes e amigos fora da prisão.

Com a Segunda Guerra Mundial e sem mais possibilidades de recursos à opinião pública, Olga seria um alvo óbvio para as políticas de extermínio nazistas: na Páscoa de 1942, com 34 anos de idade e quase quatro anos depois de transferida para Lichtenburg, Olga foi enviada para o campo de extermínio de Bernburg, onde foi executada na câmara de gás em 23 de abril de 1942 com mais 199 prisioneiras, dentre elas suas amigas Sarah Fidermann, Hannah Karpow, Tilde Klose, Irena Langer e Rosa Menzer. A notícia de sua morte foi feita através de um bilhete escondido na barra da saia de uma das presas.

Luis Carlos Prestes e sua filha Anita Leocádia

Sua família só soube de sua morte em julho de 1945, após o fim da guerra. Em 2015, na Rússia, arquivos da Gestapo, referentes às atividades do órgão de segurança nazista confiscados pelos russos em 1945, foram tornados públicos pelos Fundação Max Weber e o Instituto Histórico Alemão em Moscou. A mais extensa documentação sobre uma única pessoa é a referente a Olga Benário – o “Processo Benário”, composto por oito dossiês num total de mais de 2 000 folhas – considerada pela Gestapo como inimiga de Estado da Alemanha Nazista. Estes documentos mostram que a importância dada a Olga pela direção do III Reich era tal, a ponto do Reichsführer-SS Heinrich Himmler, o segundo homem na hierarquia nazista, ter recebido um extenso relatório confidencial sobre ela, classificando-a como “uma comunista perigosa e obstinada” e que “durante o interrogatório realizado não relatou nada sobre sua atividade comunista; a continuidade de sua permanência na prisão é, por isso, necessária no interesse da segurança do Estado”. Estes documentos também revelam cartas trocadas na prisão entre Olga, Luis Carlos Prestes e seus familiares, a última delas de abril de 1941, para tentar se manter informada sobre sua filha Anita, algo até desconhecido.



PUBLICAÇÕES

A primeira biografia de Olga Benário foi escrita por Ruth Werner e publicada na Alemanha Oriental em 1961 pela Verlag Neues Leben, com reedição em 1984. Sua tradução para o português, feita pelo jornalista brasileiro Reinaldo Mestrinel, foi publicada pouco depois. 

Fernando Morais publicou uma nova biografia sobre ela em 1985, intitulada Olga e lançada pela Editora Ômega, com relançamento em 1994 pela Companhia das Letras. Segundo Fernando Morais, até à publicação do seu trabalho quase não havia material a respeito de Olga Benário no Brasil. 

Em 1997, Jorge Antunes compôs a ópera Olga, com libreto de Gerson Valle, que estreou no dia 14 de outubro de 2006 no Teatro Municipal de São Paulo. A soprano Martha Herr cantou o papel-título e Luciano Botelho interpretou Luís Carlos Prestes.

Em 2017, foi publicado o livro "Olga Benário Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo", da autora Anita Leocadia Prestes, filha de Olga e historiadora. 

Em 2019, foi publicado o livro "Viver é tomar partido", pela autora Anita Leocadia Prestes, filha de Olga e historiadora.


ADAPTAÇÕES  PARA A TV E CINEMA

Em 1989, a telenovela Kananga do Japão, produzida e exibida pela extinta Rede Manchete de Televisão, retratou o casal Olga Benário e Luís Carlos Prestes com a interpretação de Betina Vianny e Cassiano Ricardo.

Na Alemanha, o cineasta turco Galip İyitanır produziu o documentário Olga Benario - Ein Leben für die Revolution em 2004. 

Em 2004 também foi realizado um filme brasileiro de ficção baseado na biografia escrita por Fernando Morais, intitulado Olga e dirigido por Jayme Monjardim, com a atriz Camila Morgado no papel de Olga. O ator Caco Ciocler, por sua vez, interpretou o líder brasileiro comunista e ex-tenentista Luís Carlos Prestes. 


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REFERÊNCIAS

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-olga-benario-vida-revolucionaria-comunista.phtml

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-luis-carlos-prestes-olga-benario.phtml

https://brasilescola.uol.com.br/historiab/vida-olga-benario-prestes.htm

https://www.ebiografia.com/olga_benario/

https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/vida-olga-benario-prestes.htm

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Carlos_Prestes

https://pt.wikipedia.org/wiki/Olga_Ben%C3%A1rio_Prestes


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